
SANTUÁRIO
SENHOR JESUS DOS MÁRTIRES


IGREJA DO SENHOR DOS MÁRTIRES
IGREJA SENHOR DOS MÁRTIRES
Frei Agostinho de Santa Maria, no tomo 6º do Santuário Mariano (1716), a pg. 304 e ss. Relata acerca desta imagem:
“Na vila de Alcácer do Sal ha hum antigo templo dedicado ao Santo Christo dos Martyres, aonde assistirao os Freyes da Ordem de Santiago quando de Mertola passarão para Alcácer, e donde depois se mudarão para a Villa de Palmela, que he hoje a cabeça da mesma Ordem.
“No alpendre deste templo se vê hum nicho grande e fundo, que fica á parte esquerda do alpendre, antes de chegar á porta principal do mesmo templo. Neste estava collocado huma devota e milagrosa imagem da May de Deus, a que dão o titulo de N. Senhora da cinta, pela razão de estar cingida com uma correa de couro ao que representa na forma de que usão os filhos de meu padre Santo Agostinho…
“He esta sagrada imagem de pedra e de proporção natural de hua mulher; está colocada sobre um pedestal ou columna, causa sobre alguns lhe chamavao Nossa Senhora do Pilar, e também porque no mesmo pilar está esculpida a imagem de Santiago apostolo das Hespanhas, á parte esquerda, com as mãos postas, olhando para a Senhora… He o pilar tão comprido que do altar para cima faz nove palmos, fora o que está metido na parede do nicho ou altar, com que vem a ser hua grande columna…
“A imagem he hua pedra excelente e finíssima e parece como dos marmores que se cortão em Extremoz, assim na alvura como na fineza… está encarnada e he coroada da mesma pedra; mas dizem algumas pessoas que antes da encarnarem ainda parecia muyto mais formosa…
“A devoção que todo aquelle povo da villa de Alcacer tem para com esta imagem é muito grande, e principalmente as mulheres pejadas, as quaes nas vesperas dos seus partos vão fazer as suas novenas; e para a obrigar a que lhes dê feliz sucesso, na ocasião delles a prendem com ricas colonias e fitas…”
Narra ainda o cronista dos santuários marianos, que a Senhora fora achada por uns pescadores no rio, junto à fonte da figueira, e posta na igreja se mudava para o alpendre, onde em vista do desejo manifestado a deixaram. Supõe o estudioso agostiniano que a imagem houvesse pertencido aos antigos cristãos de Salacia e que a tivessem os infieis lançado ao Sado.
Acerca da imagem refere Virgílio Correia:
“Sob o ponto de vista das atribuições o devoto mariano não merece confiança alguma; para ele todas as imagens antigas, de pedra ou de marfim vêm dos primeiros tempos do cristianismo. Mas quanto às descrições, versando sobre peças que geralmente vira, não devemos guardar a mesma reserva. Não me custa por isso a crêr que de facto, o pilar em que a Senhora se ergue fosse mais alto e possuise da esquerda imagem de S. Tiago. O certo é porém que hoje o pilar não tem mais de um metro de alto, e da sua decoração testemunha a figura desenhada por Alfredo Candido do natural.
“Como se vê nessa figura, a imagem, enroupada e talhada ao modo usual das estátuas do séc. XIV, segura no braço esquerdo o menino e soergue com a direita um pano do manto que a envolve, sob o qual se divisa parte do peito e a cintura com a correia.
“A cinta é habitual em muitas imagens congéneres, e não compreendo o motivo especial porque esta foi escolhida pela devoção das parturientes, pois não se trata de nenhuma Senhora do Ó. No nicho estão penduradas muitas fitas de ceda. Perguntando à velha “sancristã” do templo se essas fitas marcavam o diâmetro dos ventres, ela respondeu-me que as medidas, ilogicamente, marcavam apenas a altura das devotas”.
A imagem mede 1,03 de alto; o pedestal 0,53. Nesse pedestal, afeiçoado no alto à maneira de pilar oitavado, está um escudo onde se vê uma cruz de Santiago sobreposta de cinco vieiras.
A escultura é considerada por Virgílio Correia como obra característica do séc. XIV que a forma do escudo poderia levar para o séc. XV.
A igreja propriamente dita compõe-se de um corpo rectangular prolongado para nascente por uma capela igualmente rectangular, e para poente um alpendre quadrado, sobre o qual se estabeleceu o coro por meados do séc. XVI.
Este corpo está ladeado por capelas. Das capelas do lado direito resta só uma, a “do tesouro”, mencionada na visitação de D. Jorge. Das do lado esquerdo duas, a Capela dos Mestres, e a Capela de Maria de Resende.
Virgílio Correia diz: “Do túmulo dos mártires que originaram a invocação do templo, e que estava na parede do evangelho, nem vestígios vislumbrei, como nada descobri acerca da “capela muito raza” onde, ante o cruzeiro, jazia no começo do séc. XVI, o mestre D. Paio Peres Correia.
O corpo central, cuja capela-mor foi transformada no séc. XVIII possui revestimento de azulejos seiscentistas. Além do altar-mor possui mais quatro, e um desses, do lado direito, é o da veneração da Senhora da Cinta.


